Inovação na coleta de dados botânicos
A equipe do Departamento de Botânica/ICB/UFG está iniciando o uso de um novo sistema para a coleta de dados
O REDCap (Research Eletronic Data Capture) desenvolvido pela Vanderbilt University (Tennessee, Estados Unidos) é mantido pelo Consórcio REDCap Brasil e na Universidade Federal de Goiás (UFG) está sob a gestão da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). O sistema é amplamente utilizado para a coleta de dados da área de Saúde e agora está sendo iniciada sua utilização na área de Botânica.
O sistema possibilita aos pesquisadores criarem formulários personalizados para a coleta de dados, padronizando a entrada em um Banco de Dados usando um Computador ou Celular ou Tablet. Podem ser feitos registros de espécies vegetais, de dados, de coordenadas geográficas e de imagens em um Banco de Dados on-line, que fica hospedado no Servidor de Internet da UFG. Mas quando não há internet no local de tomada dos dados pode-se usar a versão mobile do sistema que armazena temporariamente dos dados no Celular/Tablet, que possibilita o up-load assim que a internet estiver disponível. Posteriormente os dados podem ser baixados em planilhas compatíveis com o Excel ou com Programas Estatísticos (SPSS, SAS, STATA, R).
Coleta de dados em Campo
A equipe composta pelos Professores Dr. Edson Ferreira Duarte; Dr. Heleno Dias Ferreira; Dra Vera Lúcia Gomes Klein do DBOT/ICB/UFG está avaliando o uso do REDCap em estudos de fenologia de arbóreas no Bosque de Saint Hilaire (UFG). Foram feitos os registros de dados e imagens das plantas, das coordenadas geográficas e das avaliações fenológicas em Formulários específicos. Sendo considerado vantajoso finalizar cada uma das avaliações mensais, com os dados já planilhados e guardados de forma segura no Servidor de Internet.
Fotografias: Edson Ferreira Duarte, Gregório Batista dos Santos Neto.
Coleta de dados em Laboratório
O registro de dados morfológicos no REDCap está ocorrendo no projeto Sementes e Inovação, que está sendo desenvolvido em parceria entre pesquisadores da UFG, da UFRB e da UFAM, possibilitando a uniformização das informações mesmo em diferentes Universidades.
Fotografias: Edson Ferreira Duarte.
REDCAp e a oportunidade para pesquisas em parceria e para a formação de Recursos Humanos em Botânica
O uso de um Sistema como o REDCap que uniformiza a entrada de dados, possibilita que parceiros de diferentes instituições possam tomar dados de forma padronizada e desenvolver estudos científicos em uma escala de paisagem e/ou ampliando a amostragem. O que pode ser uma forma mais eficiente e econômica de produzir ciência e publicar resultados mais robustos na área de Botânica, isso porque os estudos de campo tem custos relativamente elevados, pois exigem o deslocamento e a manutenção das equipes em expedições de coleta. Mas, quando houver um parceiro em uma instituição mais próxima aos locais de coleta/amostragem os custos globais dos projetos/levantamentos poderão ser reduzidos.
A viabilidade dos Projetos de Pesquisa será tanto maior quanto houver condições reais de realização das atividades, portanto a otimização de recursos humanos e materiais pode ser feita por meio de parcerias e com o uso de Sistemas computacionais que possibilitem a obtenção/compartilhamento dos resultados e deve ser considerada favorável pelos Pesquisadores/Parceiros e também pelas agências de fomento.
Quando os dados passam a ser tomados de forma padronizada abre-se a possibilidade de formação de Recursos Humanos na área de Botânica, que é conhecida pela adoção de muitos termos considerados "difíceis" pelos estudantes. Assim o uso do REDCap em trabalhos de Iniciação Científica e de Pesquisa pode ser importante para acelerar a capacitação e a adoção terminológica de forma eficiente.
O futuro dos dados de espécies seminíferas
Sabemos que existe uma ligação emocional dos pesquisadores e estudantes com os dados produzidos, mas muitas vezes esses dados, mesmo produzidos de forma criteriosa, ficam "engavetados" ou são disponibilizados apenas nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), nas Dissertações e/ou Teses. Esse tipo de publicação tem sido denominada de "literatura cinza" e tem sido evitada sua citação em periódicos científicos, por não ter sido feita a devida validação por pares em uma publicação.
Contudo, os dados também são produtos da Pesquisa Científica e devem ser valorizados. Mas, o valor desses dados só pode ser reconhecido se forem compartilhados em Repositórios de Dados públicos, nos quais recebem DOI (Digital Object Identifier) e podem ser citados por outros pesquisadores. Porém, mesmo quando compartilhados nos Repositórios alguns problemas ainda persistem e limitam reuso dos dados, que são a desuniformidade nos registros e informações truncadas, bem como pelo uso de termos pouco informativos.
Para reduzir os problemas apontados e possibilitar o avanço científico e sócio-econômico de uma forma mais colaborativa é essencial a padronização na entrada de dados de forma a atender os princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable and Reusable) da Ciência Aberta, por isso é que está sendo proposto um Programa de Desenvolvimento do Setor de Sementes Nativas e Crioulas (ver vídeo clicando aqui), para padronizar e reunir e acompanhar todas as informações sobre as espécies vegetais produtoras de sementes, incluído as áreas remanescentes, sua riqueza e abundância, a ocorrência das espécies oriundas de coletas e de levantamentos fitossociológicos, a época produção de sementes determinadas em estudos fenológicos, avaliações anato-morfo-fisiológica de sementes e também tecnológicas, como forma de compreender o estado do conhecimento e propor de forma coletiva avanços na pesquisa, no fomento, na produção e armazenamento e na legislação.
Dessa forma, os dados produzidos em estudos básicos da área de Botânica também deverão ser valorizados, pois são essenciais para produção de sementes e mudas e para o desenvolvimento sócio-econômico-ambiental no Brasil, uma vez que os processos mitigatórios para as mudanças climáticas globais necessitam de conhecimentos básicos de muitas áreas da Botânica.
Texto escrito por Edson Ferreira Duarte (DBOT/ICB/UFG) em 05/03/2023.
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